Sempre sofri com insônia, perdi a conta das vezes em que eu, quando criança, gritava minha mãe no quarto ao lado pra me dar um copo de leite porque não conseguia dormir, e não havia nada com que me preocupar. Hoje, meu sono ainda me é tomado à noite, passo madrugadas procurando o que ver na televisão, ou na internet, passo horas lendo um dos livros inúmeras vezes iniciados, ou, o mais comum dos últimos tempos, horas a fio com alguma preocupação em mente.
Há um sábio texto que diz: “preocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para resolver uma questão de álgebra”, por muito tempo tentei inserir essa lição na minha vida, mas nem sempre as coisas acontecem como queremos ou imaginamos. Nestas noites em que me derramo em lágrimas por não conseguir tomar decisões, por não compreender muita coisa, por não saber lidar com certas dificuldades, por não entender o senso crítico das pessoas, é que eu aprendo como a vida não deveria ser e como eu deveria levá-la.
Mais de vinte anos esperando coisas acontecerem e tentando fazer com que elas pelo menos comecem, todo o tempo do mundo para que elas dêem errado e me apunhalem pelas costas, como a um guerreiro que está tão ligado em sua batalha à frente, que se desliga de sua retaguarda, enquanto é a ela que deveria dispensar maior atenção.
Nessas noites perdidas, eu aprendi que certas coisas não servem para quase nada. Horóscopos, por exemplo , só servem para plantar falsas idéias e esperanças, decidi que levá-los a sério demais é bobagem, uma das maiores possíveis. Se você ama alguém que não tem, se você tem um trabalho que não ama ou não tem um trabalho, se tem problemas com a família, e esses são alguns dos motivos das dificuldades da sua vida, rever os conceitos e compreender a si mesmo e aos outros tem mais eficácia que buscar solução para tudo em horóscopos. Se ao invés de gastar cinco minutos do dia com isso a humanidade lesse uma página de livro ou periódico, talvez o mundo fosse um lugar melhor para nossos filhos, e para nossa futura felicidade com belas noites de sono.
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